Casamentos: festejar em tempos de pandemia
Artigo publicado na revista “Noivas de Portugal”, edição de Agosto de 2021
Nenhum aspeto da existência humana parece ter escapado imune às consequências da pandemia, sendo que um sem número de casamentos foi adiado, alterado, até cancelado, com consequências indeléveis na vida de muitos casais. Para além de constituir um enorme desafio, organizar um casamento atualmente implica, além do mais, a tomada de decisões difíceis, com impacto direto não só na saúde e bem-estar de familiares e amigos, como também na alegria e na simbologia deste acontecimento tão marcante.
Para os casais que “contra ventos e marés” persistem no cumprimento do seu sonho, recordamos que, à data de escrita deste artigo (julho de 2021) existe um quadro normativo relativo à realização de eventos familiares, nomeadamente casamentos (normas da DGS e resolução do Conselho de Ministros). Contudo, estando a legislação em permanente atualização, sugere-se consulta aquando do planeamento e organização.
Além das contingências em termos de dimensão de espaço face ao número de presenças, existe a obrigação legal (e ética) de realização de testes de diagnóstico de SARS-CoV-2, sempre que estiverem presentes mais de dez pessoas, medida que se afigura como a que maior segurança pode proporcionar. Os anfitriões têm a obrigação de promover a testagem e os convidados têm a obrigação de realizar a testagem. Esta obrigação está ultrapassada sempre que o convidado já possua Certificado Digital. O incumprimento constitui crime e é sancionado ao abrigo da lei penal.
Se os casamentos sempre foram eventos altamente “stressantes”, agora cada escolha pode afigurar-se extremamente complexa, pela necessária conjugação entre o que o casal deseja e o que é exequível. E, na perspetiva dos convidados, a festa de casamento pode, para alguns, representar o primeiro encontro social após meses de isolamento, pelo que é normal que também haja indecisões quanto à participação, maiores atrasos nas confirmações de presença, dúvidas e receios ao longo do evento. Contudo, mãos à obra, pois “Tudo o que vale a pena ser feito merece e exige ser bem feito”, como afirmou Philip Stanhope (Conde de Chesterfield, diplomata e estadista, Londres, 1694-1773). Esta máxima parece aplicar-se totalmente à realização de um casamento, ainda para mais em tempos de pandemia mundial!
Algumas ideias para refletir:
- Tendo em conta a complexidade redobrada devido às condicionantes originadas pela pandemia, designadamente quanto ao cumprimento do quadro legal, o investimento em organização profissional (contratação de serviços de “wedding planner”) pode revelar-se enormemente vantajoso, a vários níveis.
- Todo o processo deve assentar numa atitude de grande flexibilidade bem como capacidade de, com resiliência, lidar com imprevistos e até com a frustração. É natural que os casais experienciem sentimentos contraditórios, que podem ir da vergonha (“como estar a pensar numa festa em tempos de pandemia!”) à ansiedade, ou que tenham que lidar com pessoas cuja atitude pode ir desde o negacionismo até à positividade tóxica (uma falsa sensação de otimismo que se pode traduzir em afirmações do género “o casamento vai ser diferente do que querias mas pelo menos estás com saúde”). Portanto, uma atitude realista e pragmática poderá ajudar muito.
- A lista de convidados será, certamente, muito mais pequena, mas o casal pode considerar segmentá-la, por exemplo, por categorias de relacionamento (familiares muito próximos, amigos de longa data, etc.) e organizar celebrações posteriores, de menor dimensão, mas igualmente simbólicas.
- Claramente, tudo o que puder deve passar a digital, nomeadamente os convites. Perderão em beleza, encanto e peça para recordação, mas ganharão no evitar de contactos, no encurtar de prazos e, sobretudo, na enormíssima diminuição de custos.
- Tudo – absolutamente tudo! -o que for viável, deve acontecer ao ar livre.
- As questões direta e indiretamente relacionadas com alimentação (que são, para muitos, o fator determinante no sucesso do evento!) têm que repensadas e a legislação escrupulosamente cumprida (tarefa a cargo dos serviços de “catering”). Sugere-se, por exemplo, eliminar qualquer tipo de “buffet” e optar por serviço empratado. O número de comensais por mesa, ao ser menor, não é uma desvantagem, pelo contrário, pode proporcionar maior entrosamento entre os convidados (porque não uma mesa de 6 pessoas em vez de uma mesa de 10 ou 12?).
- Os tradicionais formatos de entretenimento precisam de ser olhados sob outra perspetiva e, consequentemente, recriados. Neste ponto, o apoio de profissionais da área cultural é diferenciador. Por exemplo, o usual baile pode ser substituído por outras formas de distração como, por exemplo, um espetáculo. Mais do que nunca, a criatividade é fulcral para alimentar o encanto, a magia e o simbolismo do acontecimento.
- Esta mentalidade de mudança nos padrões tradicionais/habituais deve ser transversal aos inúmeros detalhes que integram o evento: o corte do bolo, os brindes, os discursos, a captação de fotografias, a entrega de lembranças. Tudo deve ser estruturado evitando aglomeração e proximidade física entre pessoas.
Talvez estejamos, também, na organização de um casamento, perante uma oportunidade para promover a simbologia dos afetos, em detrimento de grandes festas com muitos convidados mas, em alguns casos, pouco significado. Afinal, “o essencial é invisível aos olhos”!
Cristina Fernandes
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