Porque detesto a expressão “quebrou o Protocolo…”

Nos últimos dias, mais intensamente do que habitual, devido às grandes cerimónias protocolares que têm ocorrido em Portugal no âmbito da Tomada de Posse do Presidente da República, Professor Doutor Marcelo Rebelo de Sousa, tem sido muito frequente ouvir, e ler, as expressões “quebrou o Protocolo” e “furou o Protocolo”.
Tenho o maior respeito pelo trabalho dos profissionais de jornalismo, mas não posso concordar com estas expressões, que só posso atribuir a desconhecimento sobre o que é, de facto, o Protocolo.
O Protocolo consiste num conjunto de normas e de regras que são aplicáveis a cerimónias e eventos, bem como ao relacionamento institucional e profissional. Estas regras de Protocolo têm, sobretudo, um propósito: ordenar, atribuindo a cada um o lugar que lhe cabe pelo seu estatuto profissional. Assim, o Protocolo ordena pessoas (aplicando a Lei, por exemplo), ordena símbolos (por exemplo, as Bandeiras), determina espaços (quem está onde) e sequências temporais (quem fala quando, por exemplo), além de ditar comportamentos em contexto formal (por exemplo, no que se refere ao vestuário mais adequado a cada situação).
Dizer que se “quebrou o Protocolo” significaria que a cerimónia, ou evento, teriam tido uma falha de organização, grave, que desrespeitaria, até, eventualmente, a legislação (designadamente, quando as bandeiras estão mal colocadas, por exemplo, ou quando os planos de seating estão mal estruturados). Ora quando a imprensa utiliza esta expressão, refere-se, maioritariamente, a atitudes e gestos que, umas vezes, poderão estar relacionados com temas de segurança e outras, têm a ver, tão só, com comportamentos que derivam de estratégias de comunicação ou até, simplesmente, com formas de ser, de estar e de sentir.
Além disso, o Protocolo não se quebra… Quanto muito, não se cumpre ou não se respeita. E isso não tem sido, manifestamente, o que tem sucedido nas cerimónias a que temos assistido nos últimos dias, felizmente.
Vale a pena fundamentar argumentos antes de, simplesmente, se afirmar isto ou aquilo publicamente… também quanto ao Protocolo!

Cristina Fernandes

 

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