Protocolo: para além do óbvio
Há, sensivelmente, quinze anos que estou ligada ao universo do Protocolo através, primeiro, dos estudos e da investigação e, posteriormente, da prática profissional em consultoria e formação, quer integrando os quadros de organizações/instituições, quer como freelancer. Ao longo destes anos, o mundo mudou, as minhas circunstâncias mudaram e eu mudei, naturalmente.
Algo, contudo, permanece inalterável: continuo a ouvir de muitíssimas pessoas, em contextos muitíssimo diferentes, as mesmas frases: “Nós, aqui, não precisamos de Protocolo” ou “O nosso evento é uma coisa muito simples, informal, não precisa de Protocolo”. Por vezes, e se vale a pena, discordo gentilmente, explico, argumento… Outras vezes, contudo, admito, já nem respondo.
Distingo Protocolo de Cerimonial e de Etiqueta. Defendo que são conceitos que se traduzem em práticas que, mesmo se inquestionavelmente interligadas (por vezes, até, indestrinçáveis), atuam de modo diferente. Entendo que, definido de forma sintética, Protocolo consiste num conjunto de regras e de preceitos que regem tanto a organização de eventos (de qualquer dimensão) como, num sentido mais abrangente, as relações interpessoais em contexto profissional e em âmbito institucional. Em linha com esta definição entendo que sim, todos os contextos profissionais e todos os eventos “precisam” de Protocolo.
Não pensemos, portanto, em Protocolo, como o conjunto de rituais enfadonhos e desatualizados que observamos, por vezes, em grandes cerimónias dos Estados, por exemplo. Façamos um exercício no sentido de ir para além do óbvio… Quando integramos um universo profissional – e por muito, muito, muito informal que seja – a nossa comunicação obedece (ou deveria obedecer) a um determinado padrão, que, em última instância, projeta a nossa imagem pessoal e a imagem institucional da organização que representamos. E considere-se comunicação no sentido mais abrangente do termo: como nos expressamos oralmente, por escrito, silenciosamente, como nos vestimos, como nos comportamos, tudo em função do contexto onde estamos inseridos, isto apenas para mencionar os aspetos mais evidentes e facilmente compreensíveis. Se quisermos ir mais além, percebemos que vai surgir, um dia, a necessidade de endereçar uma carta ou um email formal e não sabemos como, ou que temos dúvidas sobre o que vestir naquela situação, ou que não sabemos o que oferecer, ou que estamos em dúvida sobre o acolhimento a dar ao nosso cliente mais relevante.
Tudo isto sem mencionar os eventos! Sim, aqueles que “não precisam” de Protocolo. Muito bem, podem até não precisar…aparentemente. Contudo, sem Protocolo, não existe organização. Simplesmente. Protocolo é (também) organização. De pessoas, de espaços, de símbolos, de sequências temporais… existem eventos sem pessoas? Obviamente que não, esta pergunta é um contrasenso. Então, como existem eventos sem Protocolo? Até hoje, esta é uma das minhas grandes dúvidas.
Passemos, então, para o estágio seguinte… “Nós, aqui, precisamos de Protocolo. Um Protocolo flexível, em sintonia com o universo profissional atual, mas precisamos.” ou “O nosso evento é uma coisa muito simples, informal até, mas precisa de Protocolo, de modo a que possamos acolher melhor os nossos convidados, transmitindo-lhes, também, uma mensagem de profissionalismo e credibilidade.”
Normalmente, “não precisamos” de Protocolo simplesmente porque desconhecemos as enormes vantagens que esta técnica aporta ao nosso contexto profissional. Concorde-se, ou não, o Protocolo existe, mesmo, para ajudar, para facilitar, para tornar mais fluidas e pacíficas as complexas circunstâncias profissionais. Acredite, a sua intervenção vai mesmo muito para além do óbvio.
Cristina Fernandes
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