Santuário de Fátima, 12 e 13 de maio de 2017: o Protocolo no acolhimento ao Papa Francisco

(Artigo escrito e originalmente publicado no site da Revista Event Point, em 8 de junho de 2017)

Sua Santidade o Papa Francisco viajou em Peregrinação ao Santuário de Nossa Senhora de Fátima, a convite apresentado em abril de 2015 pelo Bispo da Diocese de Leiria-Fátima, D. António Marto, ao qual respondeu que, se Deus lhe desse “vida e saúde”, estaria na Cova da Iria presidindo às Celebrações do Centenário das Aparições.

O firme propósito de vir a Fátima foi transmitido aos Bispos Portugueses em 7 de setembro de 2016 e, portanto, a chegada do Papa Francisco concretizou não apenas uma intenção Sua mas, também, um acontecimento muito ansiado pelos Portugueses. Foi, assim, o quarto Papa a visitar Fátima, realizando a sexta viagem de um Sumo Pontífice a Portugal num período de 50 anos.

Cumpre esclarecer que o Papa Francisco esteve em Fátima em Peregrinação e não em Visita de Estado. Uma Visita de Estado acontece na sequência de um convite que um Chefe de Estado, de um determinado país, endereça a um seu homólogo e implica, naturalmente, práticas rigorosas de Protocolo, coordenadas entre os Serviços de Protocolo dos Estados visitante e visitado. Em Portugal, as Visitas de Estado são supervisionadas e organizadas pelos Serviços do Protocolo do Estado.

Tendo-se confirmado a viagem do Santo Padre, inicia-se um complexo processo organizativo do ponto de vista logístico e, sobretudo, de segurança (crê-se que a maior operação de segurança alguma vez montada em Portugal). Naturalmente que o Protocolo se afigura indispensável desde o primeiro momento envolvendo, desde logo, três entidades: O Vaticano, o Santuário de Fátima (como entidade anfitriã) e o Protocolo do Estado Português.

Do ponto de vista protocolar – e não considerando nesta análise, por razões percetíveis, o Cerimonial Litúrgico – cabe à equipa de Protocolo do Santuário, que tive a imensa honra de coordenar, sob supervisão dos Senhores Reitor e Vice-Reitor, duas áreas distintas: por um lado, desenvolver todo o processo relativo aos 198 participantes na Celebração, com lugar sentado, na Colunata Sul do Santuário. Neste âmbito, procedeu-se aos convites, emitiu-se Notas de Protocolo, em diferentes momentos, disponibilizando toda a informação relativa ao complexo processo de segurança e consequentes acreditações e, nos dias 12 e 13, garantiu-se o lugar a estes participantes (alguns dos quais altas individualidades do Estado Português, cuja precedência foi devidamente respeitada), tendo os mesmos sido convenientemente acolhidos. Parte desta plateia, na Colunata Sul do Santuário, foi cedida ao Protocolo do Estado, tendo esses lugares ficado sob sua gestão, o que permitiu que o Estado Português garantisse lugar sentado a um determinado número de entidades oficiais, nacionais e internacionais.

Por outro lado, a Equipa de Protocolo do Santuário estava também responsável pelo acolhimento, alojamento e refeições do Santo Padre, bem como da Comitiva Papal (num total de 48 pessoas) e dos Bispos integrantes da Conferência Episcopal Portuguesa. O alojamento aconteceu na Casa Nossa Senhora do Carmo, casa de retiros, propriedade do Santuário, onde, aliás, já tinham ficado alojados os anteriores Papas aquando das respetivas permanências em Fátima.

Sendo as cerimónias de chegada e de partida do Santo Padre em Monte Real da responsabilidade do Protocolo do Estado, dada a responsabilidade do Presidente da República nestes momentos, para efeitos de análise do papel do Protocolo do Santuário neste acontecimento, se detalharmos as pouco mais de 23 horas que o Santo Padre esteve em Fátima, verificamos que existiram, para além das Celebrações Litúrgicas, alguns momentos fundamentais do ponto de vista protocolar:

  1. A chegada do Santo Padre (e principais membros do Séquito) à Casa Nossa Senhora do Carmo e respetivo acolhimento, a 12.
  2. O jantar, a 12.
  3. O pequeno-almoço, a 13.
  4. A audiência, também acontecida na Casa Nossa Senhora do Carmo, ao Primeiro-Ministro Português, Sua Mulher e Filha.
  5. A troca de presentes entre o Santo Padre e o Reitor do Santuário.
  6. O cumprimento do Santo Padre a um grupo de Colaboradores do Santuário.
  7. O almoço, a 13, do Santo Padre com os Bispos da Conferência Episcopal Portuguesa.
  8. A despedida e partida do Santo Padre e Séquito da Casa de Nossa Senhora do Carmo.

 

Em todos estes momentos, a responsabilidade do Santuário, operacionalizada pela Equipa de Protocolo, é total e absoluta. Além do planeamento detalhado e da organização minuciosa, que se desenvolvem ao longo de meses, sempre em completo alinhamento com os responsáveis pelas áreas de Organização de Viagens, Segurança e Protocolo do Vaticano, a implementação e execução têm que acontecer de forma absolutamente perfeita, sem falhas, cumprindo não só uma agenda estabelecida ao minuto, como também regras de segurança extraordinariamente exigentes.

Num Santuário, impera a serenidade. Cada um de nós sabia, com precisão, qual o seu papel e, sabia também, que o deveria desempenhar de forma exímia, sem revelar sinais exteriores de stress. Nada, nem ninguém, podia falhar.

E nada, nem ninguém, falhou. Numa operação de uma indescritível complexidade, cada gesto, cada palavra, cada atitude expressa por cada um dos Colaboradores envolvidos foi executado com profissionalismo, empenho e profundo cuidado mas, primordialmente, com uma inexcedível alegria, dedicação, solidariedade, boa vontade e bondade. Cada um de nós sabia inequivocamente e, sobretudo, sentia, que estava a participar de um acontecimento único, histórico e irrepetível…

Aos habituais desafios do Protocolo que, ao longo deste acontecimento, caminha a par e passo com a segurança, acrescente-se uma necessidade imperiosa de cumprir com alguns outros pontos fundamentais: garantir que todo o processo de acolhimento, alojamento e refeições acontece numa atmosfera revestida de simplicidade, mas com a dignidade que o Santo Padre merece e que igualmente lhe é conferida pelo Seu estatuto; cumprir exatamente os horários, cuja margem, por razões evidentes, era nula; respeitar as precedências, quer as do Vaticano, quer as Portuguesas, interagindo com membros da Igreja e leigos; atuar, em todo o processo, com uma enorme discrição.

Os desafios foram superados com sucesso, facto para o qual concorre a enorme experiência que as equipas do Santuário detêm na organização não só de celebrações litúrgicas e cerimónias institucionais, mas também de outro tipo de eventos, sobretudo de âmbito cultural, muitos dos quais têm ocorrido ao longo das Celebrações do Centenário das Aparições.

Também do ponto de vista protocolar, a Viagem Apostólica do Santo Padre a Fátima decorreu de modo notável. No entanto, a inigualável e inesquecível memória que permanece deste acontecimento para aqueles que, como eu, tiveram o imenso privilégio de conhecer pessoalmente o Santo Padre, é o testemunho da bondade e ternura que o Seu olhar, o Seu sorriso, o Seu aperto de mão e as Suas palavras transmitem!

 

Cristina Fernandes

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